segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Albert Camus (1913-1960) morreu faz hoje 50 anos

ALBERT CAMUS – Prémio Nobel da Literatura 1957

Cronologia pelo Cinquentenário da sua Morte

Albert Camus – Nasceu em 7 de Novembro de 1913 (Mandovi, Constantine - Argélia) – Morreu a 4 de Janeiro de 1960 (Villeblevin).
Albert Camus argelino, pelo nascimento, filho de emigrantes, nasceu pobre. A sua mãe, Catherine Sintès era de ascendência espanhola (Baleares) e seu pai, Lucien Camus, de ascendência francesa.
Seu pai morreu em 11 de Outubro de 1914, no hospital militar de Saint-Brieuc, depois de ter sido gravemente ferido na Batalha de Marne. A família mudou-se então para o bairro Belcout, em Argel.

1924- 1931 – Frequenta o curso liceal nunca tendo esquecido o seu mestre Louis Germain a quem dedicará os “Discursos da Suécia”.
1932- 1935 – Prepara a sua licenciatura em filosofia na Universidade de Argel. Publica alguns artigos na Revista Sud. Jean Grenier publica “As Ilhas”. Em 16 de Junho de 1934 casa-se, pelo civil, com Simone Hié.
1936 – Em Abril é proibida a representação de “Revolta nas Astúrias” mas a peça é publicada pela Editora Charlot; em Maio, Camus obtém o Diploma de estudos superiores em filosofia com uma tese intitulada “Metafísica cristã e Neoplatónica, Plotino e Santo Agostinho”.
1938 – Conclui “Noces”, toma notas para “Calígula” e trabalha, intensamente, na actividade teatral destacando-se uma adaptação da peça “Irmãos Karamazov”, de Dostoievski.
1939 – Publicou, em Argel, “Noces”, pelas Edições Chalot; a França e a Inglaterra declaram, em 3 de Setembro, guerra à Alemanha e o seu alistamento voluntário no exército foi-lhe recusado por razões de doença.
1940 – Camus parte, em 14 de Março, para Paris onde se junta a Pascal Pia, assumindo as funções no secretariado da redacção do “Paris-Soir”. No dia 1º de Maio escreve numa carta a Francine: “Je viens de terminer mon roman […] Sans doute, mon travail n´est pas fini”. Tratava-se de “l´Étranger”.
1941 – Regresso forçado à Argélia, para junto dos familiares da mulher, em Orão, cidade que detestava, coincidiu com uma época de dificuldades materiais. Faz circular o manuscrito de “O Estrangeiro”; em Abril, regressa a Argel e, em Novembro, “O Estrangeiro” é aceite pela equipa de leitura da editora “Gallimard”.
1942 – Sofre uma recaída da tuberculose e, a meio de Agosto, muda-se para as terras altas de Auvergne. Escreve “La Peste”; a 8 de Novembro as tropas aliadas desembarcam em Marrocos e Argélia o que originou a sua separação da mulher, que havia regressado à Argélia no mês anterior, reencontrando-se somente após a Libertação.
1943 – 1944 – Estabelece contacto com o movimento clandestino da Resistência “Combat” e torna-se leitor da Gallimard; encontra-se com Claude Bourdet, do Comité Nacional da Resistência, assumindo funções, cada vez mais importantes, no jornal “Combat” que o levaram a assumir, no início de 1944, a direcção do Jornal.
1945 – No pós-guerra Camus desenvolveu uma intensa actividade jornalística e política; uma das suas mais relevantes tomadas de posição refere-se ao lançamento da primeira bomba atómica sobre Hiroshima, em 6 de Agosto, tendo, dois dias depois, publicado um editorial referindo “as terríveis perspectivas que se abrem à humanidade”; a 5 de Setembro nascem os seus filhos gémeos, Catherine e Jean.
1946 – Em Março/Junho viaja para os Estados Unidos e Canadá. Reescreve “La Peste”.
1947 – A 3 de Junho Camus abandona o jornal “Combat”; no dia 10 do mesmo mês é publicada “La Peste”, edição da Gallimard; é o seu primeiro grande sucesso editorial tendo vendidos, entre Julho e Setembro, 96 000 exemplares, obtendo o “Prémio dos Críticos”.
1949- 1951 – Em Julho/Agosto de 1949 Camus realiza uma longa viagem à América do Sul, para proferir uma série de Conferências, de onde regressou gravemente doente
1952 – Alguns dias antes da saída do livro Camus disse a Oliver Todd, seu biógrafo: “Apertemos as mãos. Porque daqui a alguns dias não haverá muita gente para me apertar a mão”. Camus sabia que a liberdade de pensamento nem sempre é bem aceite. Em Dezembro Camus publica “Post-sciptum” texto no qual procura explicar as razões que o levaram a escrever “L´Homme Révolté”. Recusa-se a colaborar com a UNESCO em protesto contra a admissão da Espanha franquista na organização.
1953 – Camus desenvolve intensa actividade no campo teatral e toma posições públicas de protesto contra a prisão, na Argentina, de Victoria Ocampo, contra a intervenção da União Soviética em Berlim Leste e contra a repressão, pela polícia de Paris, de manifestantes da África do Norte.
1955 – Em Abril/Maio realiza um sonho antigo: a viagem à Grécia onde profere uma série de conferências. Em Julho/Agosto, visitou, de novo, a Itália; em Julho escreveu, no “L´Express”, dois longos artigos – “Terrorisme et répression” e “L´Avenir algérien. Em Novembro publica no “Le Monde libertaire”: “L´Espagne et la Donquichottisme”.
1956 – Numa última tentativa de conciliação no conflito argelino, que se agravava dia a dia, Camus viaja para a Argélia onde lança, perante uma assembleia tensa e conturbada, um dramático apelo em prol de uma trégua que poupasse os civis: “ (…) porque mesmo o mais decidido entre vós conserva no meio da confusão da luta um recanto do seu coração, no qual, eu sei bem, não se conforma com o assassínio e o ódio e sonha com uma Argélia feliz. É a esse recanto em cada um de vós, franceses e árabes, que nós apelamos”. Olivier Todd, no final da sua biografia, “Albert Camus, una vie”, Gallimard (1996), escreve que “face ao problema argelino, Camus foi legalista e moralista … ele queria para a Argélia o que alguns, com Nadine Gordimer à cabeça, sonharam para a África do Sul: a coexistência na igualdade de direitos; dois povos numa só nação e um estado de direito multirracial”. Mas tal sonho tornara-se irrealizável na Argélia. Em 4 de Novembro as tropas soviéticas entram em Budapeste esmagando a insurreição húngara; responde ao apelo dos escritores húngaros e pede à ONU que mande retirar as tropas da URSS da Hungria: “Pour une démarche commune à l´ONU des intellectuels européens” (“Franc-Tireur”).
1957 – Em Março discursa na Sala Wagram contra a intervenção na Hungria (“Kadar a eu son jour de peur”) e publica, pela Gallimard, “ L´Exil et le Royaume”. Mas este é o ano do Nobel da Literatura que lhe foi atribuído, em 16 de Outubro, “pelo conjunto de uma obra que lança luz sobre os problemas que se colocam, nos nossos dias, à consciência do homem”. A reacção de Camus à notícia ficou registada nos Cadernos, no dia 17 de Outubro, com uma pungente referência à sua infância pobre lembrando a mãe: “Nobel. Étrange sentiment d´accablement et de mélancolie. À 20 ans, pauvre, et nu, j´ai connu la vrais gloire. Ma mère. »
No outono publicou, pela Calmann-Lévy, « Reflexões acerca da pena capital » e na Suécia, a partir de 9 de Dezembro, proferiu, além do discurso de recepção do Prémio Nobel, duas conferências, em Estocolmo e Upsala na primeira das quais, interpelado por um jovem argelino, profere uma célebre, e polémica, frase: «Je crois à la justice, mais je défendrai ma mère avant la justice ».
1958 – Com o dinheiro do Prémio Nobel compra uma casa em Lourmarin. Sua mãe recusa sair da Argélia e Camus decide abster-se de qualquer intervenção directa no conflito argelino.
1959 - No mês de Março, nova visita à Argélia, para ver a mãe, recentemente operada; começa a escrever, finalmente, “Le Premier Homme” ao qual dedica todo o ano; em 14 de Dezembro tem o seu derradeiro encontro público, com estudantes estrangeiros em Aix-en-Provence”, no qual em resposta à pergunta: “Êtes-vous un intellectuel de gauche?” – responde: “ Je ne suis pas sûr d´être un intellectuel. Quant au reste, je suis pour la gauche, malgré moi, et malgré elle”.
1960 – No dia 3 de Janeiro Camus parte da sua casa de Lourmarin, onde havia passado o fim de ano, de regresso a Paris, no Facel conduzido por Michel Gallimard. Francine Camus faz a viagem de comboio na qual deveria ter sido acompanhada por Camus; no dia seguinte, no prosseguimento da viagem, o carro despistou-se, numa longa recta, em Villeblevin, perto de Montereau, embatendo num plátano, provocando a morte imediata de Camus e, cinco dias mais tarde, a de Michel Gallimard. Na pasta de couro de Camus encontravam-se além de diversos objectos pessoais, o manuscrito de “Le Premier Homme”, cento e quarenta e quatro páginas que sua mulher, Francine, havia de dactilografar e sua filha, Catherine, fixou em texto, publicado pela Gallimard, na primavera de 1994.

Albert Camus está sepultado em Lourmarin.

in http://iraofundoevoltar.blogspot.com/2010/01/albert-camus-uma-cronologia-pelo.html

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