Quando penso em traição, lembro-me sempre duma anedota (talvez nem tão divertida assim) sobre os tipos de cornudos:
1. Há o corno manso, que é aquele que não se importa, que se calhar até gosta de o ser e por isso não sofre. Não sente ciúme nem posse nem tem medo de perder aquele(a) que diz amar. Se calhar, até lucra em fechar os olhos: tem casa, tem jóias, tem estabilidade, tem uma vida que parece perfeita e isso é o que mais importa. Há muitos mais cornos mansos do que se imagina porque coniventes com a situação e porque ficam camuflados na vegetação familiar.
2. Há o corno furioso, que é aquele que é corno e enfurece-se com isso. É aquele que enche páginas dos jornais a escândalos, que pratica crimes passionais em nome do amor, que faz cenas, que insulta, que fere, que denuncia os factos a todos, que se vinga e que mata. É aquele que prepara a vingança, servida a frio, que se atira para o chão e se rasga todo, que corta o pirilau ao tipo ou atira ácido à cara dela para que mais ninguém possa ter proveito. É o cornudo que se ama mais a si próprio e ao seu próprio orgulho do que alguma vez amou o outro…
3. Finalmente, há o corno estorricado. É aquele que ama, que confia no outro de tal forma que era capaz de pôr as mãos no fogo pela fidelidade do outro e fica bastante estorricado! Esse é o que provoca duas reacções distintas nas pessoas: ou ficam com «peninha» ou então gozam chamando-o de coitadinho porque não reagiu “à furioso”, porque não teve tomates para reagir, porque é um papalvo a confiar assim tão ingenuamente…
Pior que saber que o outro deseja outro corpo, é saber que seguiu a solução mais fácil. Em vez de conversarem e tentarem colmatar as falhas, apagar as frustrações, escolhem o caminho da infidelidade, a placa que diz The end, sem sequer dar ao outro uma hipótese de escolha nessa decisão. É tão mais fácil ser-se apanhado em flagrante numa cama qualquer com outro corpo, do que assumir que também se falha numa relação, que simplesmente se deixou de amar com o tempo, as discussões, a falta de compreensão e de carinho. É tão mais inebriante fazer sexo no carro num parque de estacionamento com o outro corpo do que voltar para casa para o que ainda ama e continua a cuidar das coisas para que tudo esteja bem, mas que está com problemas, deprimido, em baixo de forma, ou até doente. É tão mais fácil sair assim duma relação, à bruta, porque assim já não precisa de tentar recolar os pedaços dum amor despedaçado.
Na verdade, quem devia ser chamado de coitadinho é aquele que trai, porque não tem “tomates”, porque se trai uma vez, poderá voltar a trair o corpo do parque de estacionamento por outro num sítio ainda mais excitante. Quem mostra ser digno de respeito, é o traído que, depois do marasmo de ver o seu futuro cair por terra, volta a reerguer-se. É aquele que poderá seguir em frente, de cabeça erguida porque foi o que mais amou. É aquele que sai mais forte depois do sofrimento, que saberá depois valorizar o que é essencial, que estará mais atento aos sinais, que saberá relacionar-se de novo com alguém de forma sadia.
Por isso, cornudos estorricados recentes, não fiquem aí com vontade de morrer, não vale a pena querer amar alguém que não vos quer! Rastejar não serve de nada, tentar mudar para recolar os bocados também não. Não se culpabilizem por não terem sido cegos. Como o povo costuma dizer: Deus escreve direito por linhas tortas! Aceitem a dor como um cheque em branco para felicidade a dobrar no futuro. Só se dá valor ao que se tem, quando um dia já se perdeu tudo…
Cornudos estorricados de todo o mundo, deixo-vos esta carta com muita amorizade e agora não percam mais tempo a chorar pelas queimaduras, a pele tem uma capacidade de renovação que muito vos irá espantar. Sigam em frente, longe das lareiras!
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