quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Cantiga


Ponha aqui o seu pezinho,
devagar, devagarinho,
se vai à Ribeira Grande.
Eu tenho uma carta escrita
para ti, cara bonita;
não tenho por quem a mande.

Eu nasci à sexta-feira,
com barba e cabeleira,
mais parecia um anti-Cristo,
que até o Senhor Padre Cura,
que é homem de sabedura,
nunca tal houvera visto.

Eu fui de Lisboa a Sintra
a casa da tia Jacinta,
p'ra me fazer uns calções.
Mas a pobre criatura
esqueceu-se da abertura
para as minhas precisões.

Eu fui à Praia da Rocha,
fato de banho, galocha,
a ver se o mar estava manso
e vi lá uma garota,
toda embrulhada de roupa,
a dormir o seu descanso.

E eu fui a Vila Franca,
a cavalo numa tranca,
ao funeral de uma galinha
que tinha dentro do papo
sete cães e um macaco
e um soldado da marinha.

Toda a moça que é bonita,
se ela chora, se ela grita,
nunca houvera de nascer.
É como a maçã madura
na quinta do Padre Cura:
todos a querem comer.

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